Vou tentar responder aos comentários deixados no post abaixo (melhor ler antes ou o resto não vai fazer sentido). Não sou headhunter, então só me resta compartilhar o que os especialistas me contaram. Admito que vai parecer que sou estraga-prazeres.
1. Sem inglês, qualquer candidato sai em desvantagem total (não só na China, claro). Mesmo que você saiba mandarim, pense que há mais de 1 bilhão de pessoas que também o falam, então inglês é diferencial. A presença de empresas brasileiras ou portuguesas ainda é bem pequena por aqui.
2. Por que são poucos os brasileiros na China? Além da distância (23 horas de vôo, nenhum direto) e do preço das passagens, a China não é o lugar para qualquer emprego ou bico (como Londres, Miami ou Portugal para muitos brasileiros). Cerca de 15 milhões de chineses migram do campo para as cidades por ano, então esses bicos já têm dono. E o trabalhador rural chinês não reclama de salário baixo, de trabalhar de segunda a segunda, de não ter férias, fim de semana ou previdência.
3. Aprender mandarim ajuda muito, mas lembre-se: 190 mil estrangeiros estudam mandarim aqui na China. Esse número só deve aumentar. Então, além do mandarim, uma especialidade profissional é chave.
4. As áreas onde os estrangeiros são mais presentes em Pequim, Xangai ou Guangzhou, são aquelas onde a China ainda não consegue formar pessoal suficiente para a enorme demanda. Ou em áreas onde o país patinou nas últimas décadas. Arquitetura, hotelaria, gastronomia, tecnologia, RH, publicidade, design, moda e muito da indústria dos serviços importam muita gente.
5. Há nichos, claro. Quando brasileiros começaram a produzir calçados na China, eles importaram centenas de designers e técnicos de controle de qualidade para fazer sapatos muito melhores que os chineses produziam. Empresas chinesas começaram a fazer o mesmo, afinal muitos brasileiros ficaram desempregados quando a indústria calçadista do Sul do Brasil desmoronou (graças à concorrência da China, aliás). Eles não precisavam falar mandarim ou cantonês para serem completamente desejados pela indústria chinesa. Há mais de mil brasileiros em Dongguan na indústria de calçados.
6. Até o governo chinês entrou na onda de importar talentos. A Comissão de Administração e Supervisão de Empresas Estatais começou a recrutar CEOs e gerentes através de headhunters em 2003. 91 foram contratados dessa forma. A Comissão anunciou em julho que abrirá escritórios no exterior para facilitar a descoberta de talentos pelas grandes empresas chinesas. Diversas universidades públicas do país têm reitores e diretores estrangeiros.
7. Ainda assim, dá para ir com a coragem e a cara de pau? Muitos fazem isso. Tenho um vizinho, italiano, que veio pra cá há sete anos sem falar uma palavra de mandarim e com um inglês napolitano. Mas trouxe algum capital, que a mamma ou a nonna deram para ele, abriu um restaurante de massas, deu certo e já está na terceira filial. Ele não foi importado como executivo, mas cavou sua carreira aqui. Disso se trata a imigração. Como filho de imigrantes que sou, só desejo boa sorte a quem se aventurar por aqui.
(Foto: MBA na Universidade de Pequim tem aulas sábados e domingos à noite, demonstração do esforço da nova geração)
Janek Zdzarski Jr./Folha Imagem
Escrito por Raul Juste Lores às 15h50
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1. Sem inglês, qualquer candidato sai em desvantagem total (não só na China, claro). Mesmo que você saiba mandarim, pense que há mais de 1 bilhão de pessoas que também o falam, então inglês é diferencial. A presença de empresas brasileiras ou portuguesas ainda é bem pequena por aqui.
2. Por que são poucos os brasileiros na China? Além da distância (23 horas de vôo, nenhum direto) e do preço das passagens, a China não é o lugar para qualquer emprego ou bico (como Londres, Miami ou Portugal para muitos brasileiros). Cerca de 15 milhões de chineses migram do campo para as cidades por ano, então esses bicos já têm dono. E o trabalhador rural chinês não reclama de salário baixo, de trabalhar de segunda a segunda, de não ter férias, fim de semana ou previdência.
3. Aprender mandarim ajuda muito, mas lembre-se: 190 mil estrangeiros estudam mandarim aqui na China. Esse número só deve aumentar. Então, além do mandarim, uma especialidade profissional é chave.
4. As áreas onde os estrangeiros são mais presentes em Pequim, Xangai ou Guangzhou, são aquelas onde a China ainda não consegue formar pessoal suficiente para a enorme demanda. Ou em áreas onde o país patinou nas últimas décadas. Arquitetura, hotelaria, gastronomia, tecnologia, RH, publicidade, design, moda e muito da indústria dos serviços importam muita gente.
5. Há nichos, claro. Quando brasileiros começaram a produzir calçados na China, eles importaram centenas de designers e técnicos de controle de qualidade para fazer sapatos muito melhores que os chineses produziam. Empresas chinesas começaram a fazer o mesmo, afinal muitos brasileiros ficaram desempregados quando a indústria calçadista do Sul do Brasil desmoronou (graças à concorrência da China, aliás). Eles não precisavam falar mandarim ou cantonês para serem completamente desejados pela indústria chinesa. Há mais de mil brasileiros em Dongguan na indústria de calçados.
6. Até o governo chinês entrou na onda de importar talentos. A Comissão de Administração e Supervisão de Empresas Estatais começou a recrutar CEOs e gerentes através de headhunters em 2003. 91 foram contratados dessa forma. A Comissão anunciou em julho que abrirá escritórios no exterior para facilitar a descoberta de talentos pelas grandes empresas chinesas. Diversas universidades públicas do país têm reitores e diretores estrangeiros.
7. Ainda assim, dá para ir com a coragem e a cara de pau? Muitos fazem isso. Tenho um vizinho, italiano, que veio pra cá há sete anos sem falar uma palavra de mandarim e com um inglês napolitano. Mas trouxe algum capital, que a mamma ou a nonna deram para ele, abriu um restaurante de massas, deu certo e já está na terceira filial. Ele não foi importado como executivo, mas cavou sua carreira aqui. Disso se trata a imigração. Como filho de imigrantes que sou, só desejo boa sorte a quem se aventurar por aqui.
(Foto: MBA na Universidade de Pequim tem aulas sábados e domingos à noite, demonstração do esforço da nova geração)
Janek Zdzarski Jr./Folha Imagem
Escrito por Raul Juste Lores às 15h50
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