domingo, 23 de novembro de 2008

Emprego na China 02








O executivo carioca Felipe Carvalho com seus funcionários em Pequim
Brasileiros vão ao país trabalhar em ramos que exigem curso superior, como hotelaria, publicidade e comunicação. No país de 1,3 bilhão de habitantes, falta mão-de-obra qualificada. Uma pesquisa da consultoria McKinsey diz que a China precisará de 75 mil diretores e gerentes de alto nível nos próximos sete anos, mas que o país só possui 5.000 aptos a preencher as vagas. Por isso, a China importa CEOs, gerentes e diretores de empresas em plena crise global -seu PIB vai crescer 9,6% este ano e "apenas" 7,9% no ano que vem.
Enquanto empregos nas linhas de montagem e na construção civil desaparecem, no extremo oposto há abundância. "Todas as multinacionais e as empresas chinesas com ambições globais têm dificuldades de recrutamento na China", diz o caça-talentos Liu Xiujin, da consultoria de recursos humanos Zuo You. Diretor de uma multinacional de "headhunting", Robert Parkinson, da Antal, completa: "Faltam professores de inglês e os alunos não são estimulados a ser criativos, a discutir com seus professores. Poucos saem da universidade com o perfil que o mercado busca". Segundo a Câmera Americana de Xangai, recrutamento é a maior dificuldade das multinacionais no país.





Gerente-geral do Opposite House -o hotel mais badalado de Pequim, com suítes de até US$ 7.000 a diária- o paulista Marcos Pires, 38, é um desses executivos importados. Voltou à China há um ano, depois de ter trabalhado como gerente do hotel Península de Pequim entre 1999 e 2001. Dos 400 funcionários do hotel, 10% são estrangeiros. "Muitas vezes, precisamos ensinar tudo, da higiene à atenção, do sorriso à reação rápida a imprevistos", diz. Ele acha que os serviços na cidade ainda estão longe do ideal. "Hoje, os chineses com melhor formação querem virar diretores na hora."
"Quem sabe inglês e morou fora, quer abrir o próprio negócio e ficar rico. É difícil achar gente com esse perfil disponível no mercado", diz o carioca Felipe Carvalho, 31, que há dois anos dirige a Midship, empresa americana de transporte mercantil. Ele chefia uma equipe de 20 chineses e foi parar no país depois de estudar no Canadá. "Pago US$ 4.000 a funcionários que têm entre 24 e 33 anos, se não eles me trocam em seis meses", conta. Ele também vê vantagens para a carreira em estar na China. "Já pude tomar decisões que nunca poderia na matriz americana", diz. "Ainda há muita desconfiança das empresas estrangeiras." Em tempos de crise nas exportações, Carvalho já diversifica seus investimentos: acaba de inaugurar um restaurante japonês vizinho a seu escritório e pretende abrir um café gourmet. "O café aqui é imbebível."Um dos perfis mais buscados no mercado é o do chinês que estudou e trabalhou no exterior. "Conhece a cultura e o idioma chineses, mas tem as sensibilidades e o gerenciamento moderno ocidentais", diz o caça-talentos Parkinson. "O jovem chinês tem muitas opções e muita ambição, então não pára no emprego, seja por conta do salário ou porque o chefe é difícil", afirma. "O governo deveria treinar uma geração inteira, de 35 a 50 anos de idade, que cresceu nas velhas estatais e não está muito preparada para o gerenciamento moderno", diz Parkinson."Um gerente-geral de uma grande empresa ganhava 20 mil yuans por mês há dez anos. Hoje ganha entre 100 mil e 200 mil yuans (R$ 30 mil e R$ 60 mil). Pode ser menos do que eles ganham na Europa ou nos Estados Unidos, mas o poder e o crescimento da unidade chinesa das grandes empresas atrai os mais ambiciosos", diz o "headhunter" Liu Xiujin.
"Os mais jovens até são mais abertos, mas a criatividade ainda não é o forte", diz o carioca Luiz Villar, 33, que se mudou para Pequim em janeiro, depois de fazer um mestrado em cinema em Londres. Com amigos chineses, abriu a produtora de vídeo Red Boy, especializada em propaganda para internet e celulares. "Ainda é comum que os clientes mostrem uma propaganda que viram no exterior e peçam algo igualzinho. Querem a cópia, sem arriscar", reclama. Ele dá cursos para funcionários da agência Ogilvy sobre linguagem de vídeo. Em seus primeiros meses no país, já fez vídeos para Nokia, Audi, Intel e Lenovo. "No Brasil, não seria sócio de uma produtora. Aqui, o mercado é virgem e há inúmeras possibilidades." Para ele, a crise já chegou, mas não o assusta. Em dezembro, chega em Pequim um amigo paulistano "importado", que trabalhará no setor de 3D da Red Boy.Segundo a McKinsey, 43% dos executivos de grandes empresas acham que o número de estrangeiros só deve aumentar. Atualmente, 500 mil europeus, 300 mil americanos e 8.000 brasileiros vivem na China.
Fotos: Janek Zdzarski Jr/Folha Imagem
Escrito por Raul Juste Lores às 14h24
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