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ÉPOCA foi a Pequim, Xangai e a vilarejos rurais para entender esse país que atrai de empresas a jovens estrangeiros em busca do mundo novo. Nesta reportagem e na série que publicaremos até as Olimpíadas de Pequim, tentaremos desvendar o mistério chinês
Ruth de Aquino, de Pequim
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Para as gêmeas, que vivem num país onde filmes com sexo, livros políticos e shows de rock americano são proibidos, o Ocidente é sinônimo de “mistério”. Para nós, ocidentais, a China é exatamente o mesmo. Um mistério. Na China, um carro é registrado a cada seis segundos. Cidades brotam como cogumelos. Arranha-céus sobem como aspargos no horizonte. A China é um caleidoscópio que confunde, irrita e fascina. Tudo impressiona pela magnitude. São quase 10 milhões de quilômetros quadrados, 1,3 bilhão de habitantes, um quinto da população mundial. São 56 etnias, mas 92% pertencem à etnia Han. O idioma oficial, o mandarim, tem 80 mil caracteres.
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Para os mais velhos, Mao é um constrangimento. É raro encontrar quem o defenda. Ao fim da viagem, quando eu já me conformava com o ritmo lento e as respostas esquivas dos chineses, testemunhei a única reação direta, quase intempestiva, de um professor de Economia da Universidade de Tsing-Hua, Denggao Long. Ao indagar se as mudanças na China mostravam uma verdadeira revolução de Deng, Long deu um pulo na cadeira e até arriscou o inglês. “Revolução? Não! Reforma.” Eu sorri, e ele continuou: “Revolução, nunca mais na China. A Revolução Cultural foi uma tragédia, um erro, negligenciou a economia, destruiu a autoridade e a ordem na sociedade, deu atenção exagerada à ideologia”. Hoje, diz ele, a China precisa cada vez mais de investimentos estrangeiros e menos controle do Estado sobre a economia. O sonho dos chineses é abrir um negócio e ficar milionário. Leia Mais....
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Para erguer os estádios olímpicos futuristas e preparar Pequim para os Jogos, 2 milhões de operários migraram para a capital. São temporários, dormem nas obras e não se beneficiam da nova legislação trabalhista instituída em janeiro: carteira assinada, meia hora para almoço, cinco dias de férias por ano nos primeiros cinco anos de empresa, dez dias de férias por ano após dez anos de empresa, 15 dias após 15 anos, 20 dias após 20 anos. Dependendo do ponto de vista, é admirável. Ou assustador. Ou ambos. Nenhum chinês gosta quando se critica o país. Na chegada, o guarda da Alfândega olhou meu passaporte e disse em “chinglish”: “Jornalista? Vai ter de dar sua contribuição à China, né? Falar bem”. Leia mais....
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“O aprendizado é longo e cruel. Mas não há como deixar de se instalar na China. Não estar na China, atualmente, significa não estar no mundo.” A afirmação é de João Carlos Lemos, de 49 anos, diretor-geral da Embraco Snowflake, líder no mercado de compressores para geladeiras e refrigeração. O engenheiro gaúcho Lemos, casado com Carmem e pai dos adolescentes Thiago, de 18 anos, e Giulia, de 11, é um dos pioneiros entre os executivos brasileiros na China. Viajou primeiro em 1995, quando a Embraco abriu sua primeira fábrica. Voltou para o Brasil, depois novamente resolveu mudar-se para Pequim com a família para dirigir a nova fábrica, inaugurada em 2006 para atender a um consumo que dobrou em dez anos. Lemos mostra um orgulho especial por seu esquema de treinamento interno. “Tenho funcionários aqui que vêm da Mongólia, das montanhas, com toaletes em casinhas sem teto no mato. Ensinamos etiqueta aos gerentes, como se portar à mesa. O importante é a gente não achar que pode mudar a cultura chinesa. É preciso respeitar”.Leia Mais....
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Os contratos e acordos chineses são vagos. A maneira de pensar deles é diferente. Eles nunca dizem não”, afirma Tim Clissold, inglês de 48 anos com 20 de experiência na China. Clissold é CEO da Peony Capital, uma empresa em sociedade com um megainvestidor australiano e Bill Gates, destinada a ajudar os chineses a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a lucrar com isso. “Aprender o idioma é difícil, levei dez anos, mas ajuda demais”, diz Clissold. “Porque o idioma não é, para eles, apenas uma ferramenta de comunicação. O mandarim não tem tempos verbais. Não existe passado, presente nem futuro dos verbos. É perfeito para poesia ou para descrever emoções, clima, sentimentos. Não para expressar um conceito jurídico, legal. É aí que os problemas surgem.” Leia Mais...
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Um dos mitos derrubados, imediatamente, ao chegar, é o chinês bonzinho ou zen. A julgar pelo apetite com que tem comprado empresas de fora, o chinês tem pressa para se tornar o maior do mundo. Ouvi o mesmo discurso, confiante, de altos executivos chineses. Da Shanda – gigante de games interativos on-line, sediado no Vale do Silício de Xangai, onde só existem empresas high-tech – à Focus Media, jovem empresa de oito anos de idade que é o maior canal de publicidade em telas de cristal líquido espalhadas pelo país. Eles nem pensam no consumidor de fora. “Somos o mercado que mais cresce no mundo e com mais rapidez. Antes, licenciávamos produtos de outras empresas, coreanas. Agora, compramos as empresas e suas bases de dados”, diz Jacky Zhuge, diretor de Comunicação Corporativa da Shanda. Eles não são bonzinhos nem submissos ou passivos, muito menos pacientes. A mesma ansiedade da busca ao lucro pode ser experimentada no dia-a-dia. Em filas, haverá sempre um chinês empurrando por trás, com a bolsa, o carrinho ou com o próprio corpo. Sair de um elevador é sempre uma disputa. (Eles entrarão antes.) A falta do conceito nacional da fila ordenada é tão acintosa que o governo lançou uma campanha explicando que um precisa ficar atrás do outro, ou dar a vez para quem sai de um transporte público. Leia Mais ....
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Apesar de uma burocracia titânica, de um aparato governamental gigantesco e mesmo com tantas empresas sob o controle do governo, os chineses sentem que sobra dinheiro no fim do mês. A vida, para eles, já foi muito pior. Hoje, com reservas estrangeiras de US$ 1,682 trilhão e com a moeda americana desabando, a China vem aparecendo na mídia não mais como o país atrasado. É um dos maiores compradores mundiais de ativos e empresas estrangeiras. Uma das bandeiras do atual presidente, Hu Jintao, é a meritocracia no Partido. Existe um plano para desenvolver tecnologia e inovação nos próximos 15 anos. Dois mil cientistas chineses foram convidados a participar. A meta é que, até 2050, a cada três pesquisas científicas no mundo, uma faça referência a um cientista chinês. Leia Mais ....